Naufrágio em Florianópolis: mar já levou quatro filhos de Salma e Maurinho
Acidente próximo à Ilha do Arvoredo deixou dois desaparecidos. Uma pessoa conseguiu se salvar
Não parece doce a vida da família de Maria. Dos 11 filhos do casal Maurino e Salma – seis homens e cinco mulheres – cinco desapareceram no mar. Um deles sem que o corpo tenha sido encontrado jamais. Na memória dos amigos, o caso de um que perdeu a vida ainda menino, aos 13 anos.
Dalmo Maurino de Maria é o quinto. O pescador casou-se duas vezes e teve quatro filhos. A dor dos de Maria, que deixa em luto a comunidade onde moram, ressurge pouco mais de um ano depois. Em 7 de setembro do ano passado, um irmão também desapareceu no mar. Por coincidência, na área próxima da Reserva do Arvoredo.
"Mas o que leva as pessoas mesmo com tragédias próximas seguirem o mesmo destino?", perguntam-se moradores da Praia de Canto Grande, onde fica a casa do homem que até a noite de domingo não havia sido encontrado.
– O sobrinho do Ayrton Senna deixou de ser piloto por que o tio morrreu em uma corrida? – provoca alguém.
O fascínio pelo mar e o gosto pela atividade da pesca estão entre os motivos. O pai, Maurino, também foi pescador. Nativo, aprendeu com os antepassados e repassou a arte aos filhos. Ontem à noite, limitava-se a dizer que nada podia falar. A esposa, ao lado, está de cama, e também não mostrava forças para contar sobre mais uma fatalidade.
Entre os amigos, o sentimento de perda cresceu com o passar das horas. O pouco de esperança sobre a possibilidade de que Dalmo estivesse vivo se esvaiu quando foi contado pelo sobrevivente do naufrágio que ele estaria sem colete salva-vidas. Pela internet, amigos reconheceram um pedaço da lancha que, sexta-feira, ajudaram a colocar na água.
Dalmo havia reformado a embarcação recentemente. Fez isso depois que, um tempo atrás, a lancha sofreu uma avaria. Na ocasião, ele teria tomado um susto. Mas não o suficiente para tirar da cabeça o gosto das travessias e de alugar embarcações para passeios.
Terceiro acidente grave de Dalmo
Contam os amigos que esse foi o terceiro acidente grave que ele teve no mar. Alguém chegou a aconselhar a deixar a atividade de lado e ficar só com o táxi, no qual atende aos moradores. Mas ele não aceitou.
Ontem à noite, a segunda esposa de Dalmo e a filha caçula, de 14 anos, espiavam pela janela o movimento dos carros. E por essas tristes coincidências da vida, a mulher assim como os outros membro da família de Maria, revivia uma passagem dolorosa: seu primeiro marido também desapareceu no mar.
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Também não parece doce a vida da mulher
Aliviada por estar com o marido em casa e nervosa pelo desaparecimento dos amigos Rui e Dalmo, Catarina Belletti Francisco, casada com o sobrevivente Belarmino João Francisco, 53, contou como o empresário passou mais de sete horas em alto mar lutando pela vida. Até a noite deste domingo, ele se manteve dentro de casa tentando se recompor do susto, mas contou os detalhes do naufrágio à Catarina.
Diário Catarinense — Como foi acidente segundo Belarmino?
Catarina Belletti Francisco — Eles saíram para pescar como fazem há mais de 10 anos de Canto Grande por volta das 20h. Era para estarem de volta no sábado ao meio-dia. Como ele me disse, era muito escuro e não viram a onda só sentiram quando a embarcação virou. Primeiro veio uma bem forte que alagou o barco e a segunda virou de vez. O Belarmino e o Rui estavam de colete. Por duas ou três horas ficaram se mexendo muito no mar, mas foram se distanciando um do outro porque a correnteza estava forte. O Dalmo não estava de colete e não foi mais visto depois da segunda onda.
Dalmo Maurino de Maria é o quinto. O pescador casou-se duas vezes e teve quatro filhos. A dor dos de Maria, que deixa em luto a comunidade onde moram, ressurge pouco mais de um ano depois. Em 7 de setembro do ano passado, um irmão também desapareceu no mar. Por coincidência, na área próxima da Reserva do Arvoredo.
"Mas o que leva as pessoas mesmo com tragédias próximas seguirem o mesmo destino?", perguntam-se moradores da Praia de Canto Grande, onde fica a casa do homem que até a noite de domingo não havia sido encontrado.
– O sobrinho do Ayrton Senna deixou de ser piloto por que o tio morrreu em uma corrida? – provoca alguém.
O fascínio pelo mar e o gosto pela atividade da pesca estão entre os motivos. O pai, Maurino, também foi pescador. Nativo, aprendeu com os antepassados e repassou a arte aos filhos. Ontem à noite, limitava-se a dizer que nada podia falar. A esposa, ao lado, está de cama, e também não mostrava forças para contar sobre mais uma fatalidade.
Entre os amigos, o sentimento de perda cresceu com o passar das horas. O pouco de esperança sobre a possibilidade de que Dalmo estivesse vivo se esvaiu quando foi contado pelo sobrevivente do naufrágio que ele estaria sem colete salva-vidas. Pela internet, amigos reconheceram um pedaço da lancha que, sexta-feira, ajudaram a colocar na água.
Dalmo havia reformado a embarcação recentemente. Fez isso depois que, um tempo atrás, a lancha sofreu uma avaria. Na ocasião, ele teria tomado um susto. Mas não o suficiente para tirar da cabeça o gosto das travessias e de alugar embarcações para passeios.
Terceiro acidente grave de Dalmo
Contam os amigos que esse foi o terceiro acidente grave que ele teve no mar. Alguém chegou a aconselhar a deixar a atividade de lado e ficar só com o táxi, no qual atende aos moradores. Mas ele não aceitou.
Ontem à noite, a segunda esposa de Dalmo e a filha caçula, de 14 anos, espiavam pela janela o movimento dos carros. E por essas tristes coincidências da vida, a mulher assim como os outros membro da família de Maria, revivia uma passagem dolorosa: seu primeiro marido também desapareceu no mar.
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Também não parece doce a vida da mulher
Aliviada por estar com o marido em casa e nervosa pelo desaparecimento dos amigos Rui e Dalmo, Catarina Belletti Francisco, casada com o sobrevivente Belarmino João Francisco, 53, contou como o empresário passou mais de sete horas em alto mar lutando pela vida. Até a noite deste domingo, ele se manteve dentro de casa tentando se recompor do susto, mas contou os detalhes do naufrágio à Catarina.
Diário Catarinense — Como foi acidente segundo Belarmino?
Catarina Belletti Francisco — Eles saíram para pescar como fazem há mais de 10 anos de Canto Grande por volta das 20h. Era para estarem de volta no sábado ao meio-dia. Como ele me disse, era muito escuro e não viram a onda só sentiram quando a embarcação virou. Primeiro veio uma bem forte que alagou o barco e a segunda virou de vez. O Belarmino e o Rui estavam de colete. Por duas ou três horas ficaram se mexendo muito no mar, mas foram se distanciando um do outro porque a correnteza estava forte. O Dalmo não estava de colete e não foi mais visto depois da segunda onda.
DC — E quando Belarmino ficou sozinho, o que ele fez para sobreviver?
Catarina — Ele contou que não parou de mexer os braços, sempre nadando contra a correnteza. Disse tentou subir em uns pedaços de madeira do barco, mas eram muito finos e afundavam. Aí tentou se agarrar na caixa de isopor que levaram, mas ela quebrou. Falou que o que mais pensava era em não parar de se mexer, não sentir sede ou fome. Ás vezes parava por conta de câimbra nas pernas.
DC — Como foi o salvamento?
Catarina — Por volta das 6h da manhã, ele disse que passou a ficar com medo de não suportar o frio. Foi aí que avistou um barco. Pegou o apito do colete, mas ele não funcionava, aí disse que gritou tudo o que podia até que ele se aproximou e jogou uma boia, cobriram ele e deram café bem quente. Mas só foi tomar água às 13h, acho que ficou com a ideia fixa de não sentir sede.
DC — Ele já tinha passado por uma experiência semelhante e pensa em voltar a pescar?
Catarina — Não, sempre pescou à noite e nunca ocorreu nada. Depois desta, disse que não quer mais voltar ao alto mar, tem pesadelos e ainda está muito abalado.
Catarina — Ele contou que não parou de mexer os braços, sempre nadando contra a correnteza. Disse tentou subir em uns pedaços de madeira do barco, mas eram muito finos e afundavam. Aí tentou se agarrar na caixa de isopor que levaram, mas ela quebrou. Falou que o que mais pensava era em não parar de se mexer, não sentir sede ou fome. Ás vezes parava por conta de câimbra nas pernas.
DC — Como foi o salvamento?
Catarina — Por volta das 6h da manhã, ele disse que passou a ficar com medo de não suportar o frio. Foi aí que avistou um barco. Pegou o apito do colete, mas ele não funcionava, aí disse que gritou tudo o que podia até que ele se aproximou e jogou uma boia, cobriram ele e deram café bem quente. Mas só foi tomar água às 13h, acho que ficou com a ideia fixa de não sentir sede.
DC — Ele já tinha passado por uma experiência semelhante e pensa em voltar a pescar?
Catarina — Não, sempre pescou à noite e nunca ocorreu nada. Depois desta, disse que não quer mais voltar ao alto mar, tem pesadelos e ainda está muito abalado.