Em Porto Belo, três gerações de pescadores
Texto e foto de Nícia Ribas, de Plurale em revista
De Porto Belo (SC)
De Porto Belo (SC)
“Se o tempo tá bom, não tem feriado”, diz o caiçara Manoel Zacarias da Silva Filho, o popular Leco, 60 anos, pescador de Porto Belo (SC) . No mar desde os 10 anos, quando acompanhava o pai na pesca de espinhel, pegando corvina e cação, Leco sentiu bem de perto a influência do progresso na pesca artesanal: “Já foi melhor; agora a claridade da luz elétrica nas praias atrapalha a pesca noturna”. Por outro lado, admite que o telefone celular veio contribuir muito para a segurança do pescador.
De dezembro a fevereiro, o cotidiano do pescador portobelense é muito diferente do resto do ano por causa do intenso turismo. Além das hordas de argentinos, que chegam de carro e ônibus, transatlânticos do mundo todo valem-se das belezas do porto natural para encantar seus passageiros.
Leco faz parte da Associação dos Pescadores do Trapiche de Porto Belo, que organiza pescarias e passeios de barco até a Ilha João Cunha e as praias próximas, como o Caixa d`Aço e o Estaleiro. “Antes era uma bagunça, um querendo passar na frente do outro; agora, chega no final do dia, todos recebem o pagamento igual”, diz ele, exibindo a carteira da Associação e a licença da Capitania dos Portos de Itajaí, válida para os três meses de temporada.
Seu dia começa às 2h30 da manhã, quando sai para o mar, com o barco de pesca para pegar camarão no arrastão. Quando volta à praia, já encontra à sua espera os pescadores amadores de badejo, robalo, peixe galo e garopeta, que usam como isca o camarão vivo, vendido a R$ 50,00 a porção com 80 a 100 camarões. Os clientes mais antigos já buscam suas porções diretamente no viveiro preso no barco do pescador. Em seguida, Leco troca de barco e parte para os passeios turísticos, a R$ 15,00 por pessoa, sob a coordenação da Associação.
Pesca boa mesmo só no inverno. Em maio, já começam a chegar as tainhas e em seguida, as enchovas, até agosto. Esse período também é bom para pescar camarão sete barbas, muito valorizado no mercado. Seus clientes são as peixarias das redondezas, fora as vendas no varejo, que são poucas.
Entre as lembranças do tempo em que trabalhava embarcado em alto mar, Leco destaca um toró que enfrentou perto de Torres, no Rio Grande do Sul: “No saragaço grande, a gente fecha a maloca e espera passar, rezando pra não virar”. Em Torres, o barco pesqueiro, com 12 pescadores, estava carregado de peixe, muito pesado, difícil virar. Mesmo assim, o pavor se instala: “A gente chora e a mãe não vê.”
Reunidos diariamente na Praça dos Pescadores, que existe a 62 anos, profissionais como Leco, Ferrugem, Lelo, Nene, Éinho e Dandão trocam experiências e contam suas famosas histórias de pescadores. Alguns tecem suas redes enquanto vão deixando rolar a conversa. Seu lazer preferido é o jogo de bocha e a sinuca.
Muita emoção no mar
Tudo o que aprendeu com o pai, Manoel Zacarias, Leco vem passando para o filho, Fabiano, que ainda cedo largou os estudos por amor ao mar. Nas temporadas de veraneio, os jovens da cidade se misturam com os “minhocas”, da terra, Muito admirado pela sua coragem na pesca de siri goiá nos costões de Porto Belo, Fabiano se tornou conhecido desde menino. “Ele metia a mão debaixo da pedra, de noite, e trazia o siri, sem medo de perder os dedos nas garras fortes do goiá”, lembra Cíntia Cherem, 27 anos, de Curitiba, que veraneia em Porto Belo desde que nasceu.
Aos 32 anos, Fabiano prefere a pesca de mergulho, em busca de lagostas, polvos e robalos. “Quando ele vai sozinho, a gente fica com pensão porque ele passa o dia todo no mar”, diz o pai, preocupado. Mas vida de pescador é assim mesmo, com fortes emoções. Pelo mar, trabalhando, Leco já conheceu o Rio de Janeiro, Santos, Vitória, São Francisco e Rio Grande: “A gente descarregava nos portos e saia para conhecer a cidade”.
“Hoje está mais tranquilo”, conclui Leco, quando lembra da vida passada no mar, em busca do sustento da família. Mas não pensa em parar. Com o rosto marcado pelo sol, ele sorri para a câmera, realizado e feliz. Está pronto para mais um dia de trabalho em seu escritório ao ar livre, em plena Costa Esmeralda.
De dezembro a fevereiro, o cotidiano do pescador portobelense é muito diferente do resto do ano por causa do intenso turismo. Além das hordas de argentinos, que chegam de carro e ônibus, transatlânticos do mundo todo valem-se das belezas do porto natural para encantar seus passageiros.
Leco faz parte da Associação dos Pescadores do Trapiche de Porto Belo, que organiza pescarias e passeios de barco até a Ilha João Cunha e as praias próximas, como o Caixa d`Aço e o Estaleiro. “Antes era uma bagunça, um querendo passar na frente do outro; agora, chega no final do dia, todos recebem o pagamento igual”, diz ele, exibindo a carteira da Associação e a licença da Capitania dos Portos de Itajaí, válida para os três meses de temporada.
Seu dia começa às 2h30 da manhã, quando sai para o mar, com o barco de pesca para pegar camarão no arrastão. Quando volta à praia, já encontra à sua espera os pescadores amadores de badejo, robalo, peixe galo e garopeta, que usam como isca o camarão vivo, vendido a R$ 50,00 a porção com 80 a 100 camarões. Os clientes mais antigos já buscam suas porções diretamente no viveiro preso no barco do pescador. Em seguida, Leco troca de barco e parte para os passeios turísticos, a R$ 15,00 por pessoa, sob a coordenação da Associação.
Pesca boa mesmo só no inverno. Em maio, já começam a chegar as tainhas e em seguida, as enchovas, até agosto. Esse período também é bom para pescar camarão sete barbas, muito valorizado no mercado. Seus clientes são as peixarias das redondezas, fora as vendas no varejo, que são poucas.
Entre as lembranças do tempo em que trabalhava embarcado em alto mar, Leco destaca um toró que enfrentou perto de Torres, no Rio Grande do Sul: “No saragaço grande, a gente fecha a maloca e espera passar, rezando pra não virar”. Em Torres, o barco pesqueiro, com 12 pescadores, estava carregado de peixe, muito pesado, difícil virar. Mesmo assim, o pavor se instala: “A gente chora e a mãe não vê.”
Reunidos diariamente na Praça dos Pescadores, que existe a 62 anos, profissionais como Leco, Ferrugem, Lelo, Nene, Éinho e Dandão trocam experiências e contam suas famosas histórias de pescadores. Alguns tecem suas redes enquanto vão deixando rolar a conversa. Seu lazer preferido é o jogo de bocha e a sinuca.
Muita emoção no mar
Tudo o que aprendeu com o pai, Manoel Zacarias, Leco vem passando para o filho, Fabiano, que ainda cedo largou os estudos por amor ao mar. Nas temporadas de veraneio, os jovens da cidade se misturam com os “minhocas”, da terra, Muito admirado pela sua coragem na pesca de siri goiá nos costões de Porto Belo, Fabiano se tornou conhecido desde menino. “Ele metia a mão debaixo da pedra, de noite, e trazia o siri, sem medo de perder os dedos nas garras fortes do goiá”, lembra Cíntia Cherem, 27 anos, de Curitiba, que veraneia em Porto Belo desde que nasceu.
Aos 32 anos, Fabiano prefere a pesca de mergulho, em busca de lagostas, polvos e robalos. “Quando ele vai sozinho, a gente fica com pensão porque ele passa o dia todo no mar”, diz o pai, preocupado. Mas vida de pescador é assim mesmo, com fortes emoções. Pelo mar, trabalhando, Leco já conheceu o Rio de Janeiro, Santos, Vitória, São Francisco e Rio Grande: “A gente descarregava nos portos e saia para conhecer a cidade”.
“Hoje está mais tranquilo”, conclui Leco, quando lembra da vida passada no mar, em busca do sustento da família. Mas não pensa em parar. Com o rosto marcado pelo sol, ele sorri para a câmera, realizado e feliz. Está pronto para mais um dia de trabalho em seu escritório ao ar livre, em plena Costa Esmeralda.